Psicanálise Freudiana e a arte

on 09 abril, 2010


Salvador Dali - pensamentoextemporaneo.wordpress.com/.../

Desde sua origem, a psicanálise entrecruza-se com a arte.a psicanálise é fruto e matriz do pensamento moderno, fruto de idéias de intelectuais e artistas do século XIX e matriz de idéias do século XX. O Surrealismo, foi um dos movimentos artísticos e literários fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, quando enfatizou o papel do inconsciente na atividade criativa, e defendia que a arte deveria libertar-se das exigências da lógica e expressar o inconsciente e os sonhos, livre do controle da razão e de preocupações estéticas ou morais. Rejeita os valores burgueses, como a pátria e a família.

Em relação à arte e aos artistas, Freud tinha atitudes contrastantes, num duplo movimento de atração e repulsa. Freud, de certa forma, "denigre" a arte ao colocá-la como fomentadora de ilusão, como correção de realidades insatisfatórias, ou do lado do sonho, do sintoma e do brincar da criança. Para Freud, o artista que cria está num campo oposto ao do analista que busca descobrir as verdades soterradas. Luigi Pareyson, esteta italiano que formulou a "teoria da formatividade", pensa o fazer artístico de uma forma que ilumina o fazer psicanalítico: a arte é um "formar", um fazer que é ao mesmo tempo um inventar. "Ela é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer." A própria idéia da inseparabilidade entre conteúdo e forma, que a arte mostra tão bem, faz com que o fazer psicanalítico tenha que ser repensado. Freud buscava o conteúdo atrás da forma, mas pensar que o sentido não se reduz ao conteúdo e que algo permanece enquanto forma leva-nos a uma escuta totalmente diferente.

Nascida entre a medicina e a literatura, a Psicanálise tem lugar garantido no campo da construção ficcional, encontrando na tragédia uma chave para o trabalho de interpretação. É diferente a situação da pintura. No pensamento de Freud, a questão principal é a seguinte: a tela, assim como uma cena onírica, representa um objeto ou uma situação ausentes que, censurados, só se dão a ver por meio de seus representantes simbólicos. Como o sonho, o objeto plástico é pensado segundo a função de representação alucinatória e de ludíbrio. Aproximar-se desse objeto com palavras que permitem a apreensão de seu sentido significa dissipá-lo, assim como a conversão da imagem onírica em discurso conduz a significação para o espaço da racionalidade, rasgando o véu das representações sob o qual essa significação se ocultava. O objeto plástico, enquanto construção muda e visível, situa-se no espaço de realização imaginária do desejo. E é nisto que reside a função da arte. Freud distingue dois componentes do prazer estético: um prazer propriamente libidinal que provém do conteúdo da obra à medida que esta nos permite realizar nosso desejo (o que fazemos por identificação com o personagem ou com algum elemento do assunto tratado na obra) e um prazer proporcionado pela forma ou posição da obra que se oferece à percepção não como um objeto real, mas como uma espécie de brinquedo, de objeto intermediário, a propósito do qual são permitidos pensamentos e condutas com os quais o espectador pode se deleitar sem auto-acusações nem vergonha.

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/freud-e-a-arte/

1 comentários:

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Texto bastante interessante... que ecoa, sem dúvida, com escritos de Noemi Moritz Kon, sobre este entrecruzamento entre arte e psicanálise. Diria até quue este parece um eco, uma síntese, do texto"Entre a Psicanálise e a Arte, daquela autora, tantas são as ressonâncias!... De meu ponto de vista, gosto de pensar, também, na prática psicanalítica como alto criativo e inventivo, tal como o fazer artístico, e não, apenas, como o descobrimento ou tradução de um "sentido escondido"... Abraços alados!

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