Após a Semana de Arte Moderna e a agitação que ela provocou nos meios artísticos, aos poucos foi surgindo um novo grupo de artistas plásticos, que se caracterizou pela valorização da cultura brasileira. Além disso, esses artistas não eram adeptos dos princípios acadêmicos, mas preocupavam-se em dominar os aspectos técnicos da elaboração de uma obra de arte. Faziam parte desse grupo Cândido Portinari (1903-1962), Guignard (1896-1962), Ismael Nery (1900-1934), Cícero Dias (1908- ) e Bruno Giorgi (1905-1993).
Guerra e Paz , de Cândido Portinari
Guerra e Paz são dois painéis de, aproximadamente, 14 x 10 m cada um produzidos pelo pintor brasileiro Cândido Portinari, entre 1952 e 1956. Os painéis foram encomendados pelo governo brasileiro para presentear a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, mas antes de partirem, em 1956, foram expostos numa cerimônia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que contou com a presença do então Presidente Juscelino Kubitschek. Os primeiros estudos para a obra surgiram em 1952, quando Portinari realizava uma outra encomenda, feita pelo Banco da Bahia, com a temática de retratar a chegada da família real portuguesa à Bahia. Com o auxílio de Enrico Bianco e de Maria Luiza Leão, os painéis Guerra e Paz foram pintados a óleo sobre madeira compensada naval. Enquanto um é uma representação da guerra, o outro representa a paz. Por seu trabalho com os painéis, Portinari foi agraciado em 1956 com o prêmio concedido pela Solomon Guggenheim Foundation de Nova York.
Cândido Portinari - No início da década de 20, Portinari era aluno da Escola Nacional de Belas-Artes, onde aprendeu as técnicas e os princípios de uma arte conservadora. Em 1928, ganhou como prêmio uma viagem ao exterior. Viveu então dois anos na Europa, onde entrou em contato com a obra dos pintores mais importantes da época e também com a dos renascentistas italianos. Em sua pintura, Portinari retratou os retirantes nordestinos, a infância em Brodósqui, os cangaceiros e temas de conteúdo histórico. Entre os quadros de temas históricos destacam-se os grandes painéis de Tiradentes, atualmente no Memorial da América Latina, em São Paulo, e o painel A Guerra e a Paz, pintado em 1957 para a sede da ONU.
Com seu quadro Café, Portinari foi o primeiro artista brasileiro moderno a ser premiado no exterior. Ao morrer, em 1962, deixou obras em museus da Europa e da América, como é o caso de Mãe Chorando, de 1994, que faz parte do acervo do Museu Nacional de Buenos Aires.
O Núcleo Bernadelli
Em 1931, foi formado no Rio de Janeiro outro grupo de jovens artistas que não aceitava mais os princípios tradicionalistas que predominavam no ensino da arte, principalmente na Escola Nacional de Belas-Artes, que ainda era regida pelas idéias da Missão Artística Francesa. Esse grupo carioca recebeu o nome de ‘‘Núcleo Bernadelli’’, em homenagem aos irmãos Rodolfo e Henrique Bernadelli que, no final do século XIX, haviam contribuído para a renovação da arte brasileira. Dele faziam parte, entre outros, os artistas Ado Malagoli (1908-),
José Pancetto (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988). Apesar de esse grupo ter sido renovador, ele representou um aspecto menos radical do Modernismo.
O Pescador - Este quadro tem um colorido excepcional e trata de um tema bem brasileiro: um pescador num lago em meio a uma pequena vila com casinhas e vegetação típica. Este quadro foi exposto em Moscou, na Rússia em 1931 e foi comprado pelo governo russo.
A Sociedade Pró-Arte Moderna e o Clube dos Artistas Modernos
Em São Paulo, no ano 1932, um grupo de artistas e intelectuais fundou a Sociedade Pró-Arte Moderna – a SPAM. Desse grupo fizeram parte, entre outros, o arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972), Lasar Segall (1891-1964), John Graz (1893-1980), Antonio Gomide (1895-1967), Anita Malfatti (1896-1964), Tarsila do Amaral (1886-1973) e Regina Graz Gomide (1902-1973).
Em abril de 1933, foi inaugurada a primeira Exposição de Arte Moderna da SPAM. Essa exposição, além de mostrar os trabalhos dos seus integrantes, criou a oportunidade de se tornarem conhecidas, no Brasil, obras de importantes artistas modernos estrangeiros, como Picasso, Léger, Brancussi e De Chirico.
Em 1932, foi criado também o Clube dos Artistas Modernos – o CAM, pelos artistas Flávio de Carvalho (1899-1973), Di Cavalcanti (1897-1976), Carlos Prado (1908-1992) e Antonio Gomide (1895-1967). Esse grupo promoveu atividades diversificadas, como uma exposição de desenhos de doentes mentais e de crianças, concertos, conferências e apresentações teatrais, como as realizadas pelo Teatro da Experiência – dirigido por Flávio de Carvalho -, que encenou a peça Bailado do Deus Morto, do próprio Flávio.
O Grupo Santa Helena
Antes da reurbanização pela qual passou o centro velho de São Paulo, por causa das obras do metrô, havia um conjunto de prédios – demolido em junho de 1971 – que separava as duas praças mais centrais e mais populares da cidade: a Praça da Sé e a Praça Clóvis Beviláqua. Entre os prédios ali existentes, ficava o Edifício Santa Helena que, como muitos outros da área central da cidade, abrigava escritórios comerciais.
Na década de 30, um desses escritórios era ocupado pelo pintor de paredes Rebolo Gonzalez (1903-1980), que usava o local para receber pedidos dos seus serviços. Próximo à sala de Rebolo instalou-se o escritório do artesão Mario Zanini (1907- ). Rebolo e Zanini acabaram se conhecendo e suas salas passaram a ser freqüentados por outros trabalhadores que, como eles, também se interessavam por arte. Entre esses trabalhadores, muitos se projetaram no cenário artístico, como foi o caso de Fúlvio Pennachi (1905-1992), Aldo Bonadei (1906-1974), Alfredo Volpi (1896-1988), Clóvis Graciano (1907-1988) e Manuel Martins (1911-1979). Na década de 30, esses artistas – que passaram para a História como integrantes do Grupo Santa Helena – exerciam atividades diversas na cidade de São Paulo. Rebolo e Volpi, por exemplo, eram pintores de parede; Pennachi era açougueiro; Clóvis Graciano, ex-ferroviário e ex-ferreiro. Em comum, tinham a procedência humilde, proletária e gosto irresistível pela pintura.
Anunciação, 1978, de Djanira
Artistas primitivos do Brasil
No Brasil, a arte dos chamados “artistas primitivos” passou a ser valorizada após o Movimento Modernista, que apresentou, entre as suas tendências, o gosto por tudo o que era genuinamente nacional. E um artista primitivo é alguém que seleciona elementos da tradição popular de uma sociedade e os combina plasticamente, guiando-se por uma clara intenção poética. Geralmente esse artista é autodidata e criador dos recursos e das técnicas com que trabalha. Entre os primitivos brasileiros mais importantes estão: Cardosinho (1861-1947), o primeiro a ver seu talento reconhecido como valor estético, Heitor dos Prazeres (1898-1966), Djanira (1914-1979) e Mestre Vitalino(1909-1963), o mestre das cerâmicas.
(Graça Proença, em História da Arte. Editora Ática, São Paulo, 2004)
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